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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Dez fatos sobre a Batalha das Nações


Dez fatos sobre a Batalha das Nações

Napoleão caricatura

“Este é o preço de comandar a guarda. Enfim, estou feliz”, disse o conde Osterman Tolstoi, após perder a mão esquerda na Batalha de Leipzig.

1. “É tudo ou nada!”, declarou Napoleão ao rejeitar as propostas de paz da coalizão.
Na primavera de 1813 os aliados estabeleceram com Napoleão uma suspensão das hostilidades que terminou em finais de julho. Não desejando a sua continuação, Napoleão decidiu continuar a guerra. A sua afirmação saiu reforçada com uma nova vitória sua. Entre 14 e 15 de agosto de 1813, teve lugar a Batalha de Dresden. Os aliados saíram derrotados e iniciaram uma retirada precipitada. As suas baixas foram três vezes superiores às francesas.
2. Além dos franceses, o exército de Napoleão tinha poloneses, saxões, holandeses, italianos, belgas e alemães da Liga Renana.
De 16 a 19 de outubro, o exército de Napoleão combateu nos campos de Leipzig contra uma aliança composta por russos, austríacos, prussianos e suecos. No início da batalha, Napoleão tinha, segundo diferentes informações, de 155 a 175 mil homens e 717 peças de artilharia e os aliados – cerca de 200 mil homens e 893 peças de artilharia.
3. “Olha para Barclay e deixas de ter medo”.
Essas palavras se tornaram num provérbio dos soldados. Mikhail Barclay de Tolly se distinguia em combate pelo seu extraordinário sangue-frio graças ao qual, dizem os historiadores, as unidades sob o seu comando alcançavam frquentes vitórias. Os feitos desse chefe militar foram distinguidos com várias comendas, medalhas e títulos, entre as quais a Ordem de São Jorge de 1º grau e o título de Conde.
4. “Os quatro dias da Batalha das Nações… decidiram os destinos do Mundo”.
Essas palavras pertencem ao coronel do estado-maior prussiano Barão Von Muffling. Ele escreveu essa frase no seu relatório após a Batalha de Leipzig. Não se tem a certeza como essas palavras se tornaram largamente conhecidas, mas foram elas que deram à batalha o nome por que ela é geralmente conhecida.
5. Uma sobrevalorização tática das suas tropas e uma subavaliação estratégica do poderio militar dos aliados.
Os historiadores consideram que esses foram os dois erros fatais que Napoleão cometeu. Os seus soldados e oficiais estavam desgastados pelos combates e pelos muitos dias de marchas. Informações erradas levaram Napoleão a duvidar da presença do Exército da Boémia austríaco e supor erradamente que o Exército da Silésia russo-prussiano se encontrava bastante mais a norte do que estava na realidade.
6. “Um vazio medonho ocupava o centro do exército francês, como se lhe tivessem arrancado o coração”. 
Essas palavras descreveram a recusa dos alemães em combater por Napoleão. Toda a Divisão Saxônica (3 mil homens e 19 peças), que combatia nas fileiras das tropas napoleônicas, passou para o lado dos aliados. Isso aconteceu no meio dos combates. Mais tarde o mesmo aconteceu com as unidades de Würtemberg e de Baden.
7. O único estrangeiro a receber o bastão de marechal das mãos de Napoleão no primeiro dia da Batalha das Nações foi o Príncipe Józef Poniatowski.
Depois da retirada da Rússia ele continuou fiel ao Imperador de França. É largamente conhecido um aforismo atribuído a Napoleão: “Cada soldado leva na mochila um bastão de marechal”.
8. O "Quadro Musical para Orquestra" do compositor sueco Franz Berwald foi uma das poucas obras de compositores famosos compostas em memória da Batalha de Leipzig.
9. Um comprimento de 111 metros por 32 metros de altura são as dimensões do quadro panorâmico “Leipzig, 1813. No turbilhão da Batalha das Nações”. O seu autor é o pintor alemão de origem iraniana Yadegar Asisi. O panorama, que é o maior do mundo, foi inaugurado em Leipzig em agosto de 2013.
10. O colosso de pedra de Leipzig é considerado o maior monumento da Europa.
Ele domina a parte sul da cidade. O monumento, de 91 metros de altura, dedicado à sangrenta Batalha de Leipzig (Batalha das Nações) foi erigido segundo o projeto do arquiteto berlinense Bruno Schmitz. A inauguração solene do monumento teve lugar a 18 de outubro de 1913, no 100º aniversário da batalha, com a presença do imperador da Alemanha, do rei da Saxônia, de todos os príncipes alemães, assim como de altos representantes da Rússia, da Áustria e da Suécia.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_10_16/Dez-fatos-sobre-a-Batalha-das-Nacoes-7063/

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O FIM DE NAPOLEAO

Prólogo

Maingault - A passagem para a América - julho 1815 
      deserções e traições - Rochefort - Retorno dos Bourbons perfídia de Maitland - Belerofonte - Farewell
Napoléon - Les adieux à Rochefort
Farewell em Rochefort 

Napoléon se rend au bellerophon
  15 de julho, 1815 - Napoleão vai para a Belerofonte

Napoléon sur le bellerophon
A bordo do Bellerophon 

Warden - O caminho para o exílio - Agosto-setembro 1815 
      Northumberland - A caminho de St. Helena - As Lettres de Warden 

Napoléon um Plymouth
  Off Plymouth

Arrivée de Napoléon à Sainte-Hélène
  Chegada ao St. Helena 
O'Meara - Médico do Empereur - Outubro 1815 - maio 1816 
      Briars -  Primeiros rivalidades, primeiras queixas - Cartas para Finlaison 
            Longwood - Piontkowski - Hudson Lowe - Restrições - Declarações

Les Briars à Sainte-Hélène
O Briars, casa da família Balcombe

O'Meara - Agente do Governador - Junho-dezembro 1816 
      Provocações do médico - Malcolm -  Os comissários estrangeiros - O caso Welle 
      orçamento Longwood - letra de Remonstrance 
mandando embora os servos e Piontkowski - A prisão de Las Cases 
Napoléon à Longwood dictant à Las Cases
Napoleão ditando suas memórias para Las Cases

O'Meara - ir sozinho - de janeiro a outubro 1817 
      Albine de Montholon - O cossaco de Brienne - Disgrace de Gourgaud 
      O busto do rei de Roma - Showdown entre O'Meara e Hudson Lowe 
      Lady Plampin - Discurso ofBathurst -  Observações 

Napoléon prisonnier à Ste Hélène
  prisonner em St . Helena 

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NAPOLEAO ESTUDANDO


NAPOLEÃO VISITA UM CAMPONÊS NOS ARREDORES DE BRIENNE, 04 DE AGOSTO - FRANÇOIS LEROY DE LIANCOURT


NAPOLEÃO VISITA UM CAMPONÊS NOS ARREDORES DE BRIENNE, 04 DE AGOSTO - FRANÇOIS LEROY DE LIANCOURT

Por favor seleccione dimensões Bigger Picture!
Image: François Leroy de Liancourt - Napoleão visita um camponês nos arredores de Brienne, 04 de agosto
Image: François Leroy de Liancourt - Napoleão visita um camponês nos arredores de Brienne, 04 de agosto

Liderando o caminho

o Liderando o caminh

Napoleão na escola
Liderando o Caminho da Escola

 

NAPOLEAO EM BRIENE


Escola Militar Brienne-le-Château

Napoleão em 1779 como um nouveau na escola militar de Brienne
15 de maio de 1779
Uma combinação de escalada de Carlo social, a suspeita de adultério de Letizia com o conde de Marbeuf - governador militar francesa da Córsega - e própria capacidade de Napoleão permitiu-lhe entrar na academia militar de Brienne em 1779. Isso deu-lhe mais oportunidades para estudar do que estavam disponíveis para um corsa típico da época. Como representante da Córsega para França, o pai de Napoleão foi recompensado graciosamente pela Coroa, que financiou uma bolsa de estudos para o jovem Napoleão para o colégio militar de Brienne, na França.
Em 15 de maio de 1779, aos nove anos, Napoleão foi internado em uma escola militar francesa em Brienne-le-Château, uma pequena cidade perto de Troyes. Ele teve que aprender francês antes de entrar na escola, mas ele falava com um sotaque corso áspero ao longo de sua vida e nunca aprendeu a soletrar corretamente.
De acordo com Jacques Jourquin, Napoleão "pensa de si mesmo como um corso. Ele é cercado por estudantes que são os filhos de aristocratas franceses. E eles não têm nada em comum com este pequeno estrangeiro. E uma vez que ele é muito orgulhoso, ele se torna um solitário. "

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Napoleão: Máximas e Pensamentos, de Honoré de Balzac



DOMINGO, 15 DE ABRIL DE 2012

Napoleão: Máximas e Pensamentos, de Honoré de Balzac



O Moderno Prometeu

A primeira edição de “Napoleão: Máximas e Pensamentos” não apontava Honoré de Balzaccomo autor do prefácio e organizador, pois o célebre autor de “Le Lys dans la vallée”, precisando saldar alguns compromissos com seus credores, vendeu o livro a um certo J. L. Gaudy Jeune pela importância de 4 mil francos.

É, de fato, bastante curioso pensar em um dos maiores escritores de todos os tempos como uma espécie de ghost writer do século XIX. O equivalente moderno do “melhoro sua monografia” ou algo do gênero. A história, porém, aconteceu realmente. Balzac trabalhou árdua e incessantemente durante toda a vida para dar à luz sua vastíssima obra, era, para utilizar um termo em voga, um workaholic inveterado, movido a grandes doses de café forte, mas sempre passou por dificuldades financeiras. Quando ele nasceu, em 1799, Napoleão acabava de regressar do Egito para, após o 18 de Brumário, se tornar Cônsul da República Francesa ao lado de Ducos e Sieyès. O autor de “Ilusões Perdidas”, portanto, cresceu sob a influência doFazedor de Reis. Como se sabe, nem mesmo a derrota sofrida em 1815 e o consequente exílio em Santa Helena, onde o Imperador morreu em 1821, tiveram o condão de enfraquecer o mito napoleônico. Muito pelo contrário, pois foi justamente durante a Restauração que a já legendária figura do Artilheiro de Toulon ascendeu ao quase sagrado.

A edição brasileira
Nesse período, as pessoas cultuavam o Imperador cada vez mais de maneira menos latente. Entrementes, Balzac, íntimo das palavras, percebeu de imediato o potencial literário das frases de Napoleão e passou a anotá-las e a classificá-las. Em carta datada de 10 de outubro de 1838, dirigida à aristocrata russa Madame Hanska, que viria a se tornar sua esposa no fim da vida, Balzac esclarece o processo:

[...] Há cerca de sete anos, sempre que lia um livro em que se tratava de Napoleão, ou sempre que encontrava um pensamento intenso, novo, enunciado por ele, anotava-o imediatamente em um ‘caderno de cozinha’ que estava constantemente sobre a minha mesa de trabalho.

Na mesma missiva, ele conta que precisou vender “o mais belo livro da época” ao comerciante de gorros, mencionado acima, que esperava dedicá-lo ao Rei Luis Felipe e receber a medalha da Legião de Honra, a distinção que l’Empereur concedeu à sua Guarda em 1802 [1]. Em que pese o tom leve e irônico dessa carta, estimo ter sido duríssima, para Balzac, a separação de sua acalentada obra. Afinal, nenhum outro senão o próprio Balzac mantinha um busto de Le Petit Caporal sobre a sua mesa de trabalho, junto ao qual fixou a mensagem: “o que ele começou com a espada eu concluirei com a pena.” Além disso, como escreveu à sua futura esposa, o autor tinha plena consciência de que se tratava de “uma das coisas mais lindas desses tempos: o pensamento, a alma daquele grande homem, recolhidos após inumeráveis investigações”. Antes do fim ele diz: “Que a sombra de Napoleão me perdoe”.
Honoré de Balzac
Não obstante, Napoleão não teria do que se queixar em relação a Balzac pelo conjunto de sua obra. Nos 95 livros que compõe a “Comédia Humana, um total de 546 páginas são dedicadas aoVencedor de Friedland e de Marengo. Voltaire Schiling [2], em seu excelente artigo “Balzac e o Imperador” descreve detalhadamente as aparições de Napoleão na obra balzaquiana:

[...] O acampamento do imperador nas vésperas da batalha de Iena (1806) foi descrito por ele no Une ténébreuse affaire (Um caso tenebroso); a batalha de Eylau, travada em 1807, é narrada no conto sobre o pobre coronel Chabert (Le colonel Chabert), ocasião em que o personagem da novela é gravemente ferido na cabeça, enquanto que a terrível e heróica passagem sobre o rio Beresina, quando o imperador retirava-se da Rússia em outubro de 1812, apareceu no Adieu (Adeus).

O momento narrativo mais grandioso da presença de Napoleão na obra de Balzac dá-se no capítulo inicial da La Femme de Trente Ans, (A mulher de trinta anos) ocasião em que o imperador, em Paris, passa em revista o Grande Armée, perfilado e alinhado, antes de ser lançado nas batalhas finais travadas na Campanha da Alemanha de 1813. O vivo relato que o escritor faz das tropas enfileiradas no Campo de Marte, as fanfarras e o rufar dos tambores de guerra que anunciam ao povo e aos regimentos embandeirados à chegada eminente do grande homem, o silêncio respeitoso e a respiração em suspenso com que ele é recebido pela multidão, tudo isso, além de ser uma estupenda viagem no tempo, eletriza o leitor. Chega-se quase a ouvir-se o galope do belo cavalo branco do imperador, vestido com o seu capote cinza sem ornamentos e com o chapéu bicórneo à cabeça, passando à frente das águias da Guarda Imperial e dos símbolos gloriosos das divisões militares que se curvam frente a ele.

Tampouco, Napoleão teria do que se queixar em relação ao livro ora comentado. Em primeiro lugar, a História fez justiça em relação a Balzac, lhe restituindo a obra que este foi obrigado a vender, de modo que hoje em dia, no mundo inteiro, o livro de Máximas e Pensamentos de Napoleão é comercializado em edições que apontam Balzac como seu organizador. Ademais, pela classificação dos aforismos, divididos pelas distintas fases da Vida de Napoleão, Balzac sugere a melhor maneira de estudar-lhe a personalidade. Ao arguto olhar do autor não escapou que “o terrorista de 93 e o generalíssimo ficaram absorvidos pelo imperador, o governante desmentiu com frequência o governado, mas as palavras contraditórias que as frequentes crises lhe arrancaram, sim, revelam admiravelmente a enorme luta a que esteve condenado.” [3].
Napoleão, durante a Batalha de Friedland, dá ordens ao General Oudinot, por Horace Vernet
Balzac sabia ser impossível abarcar toda a personalidade de Napoleão em um único golpe de vista. O Imperador atuou com destaque em muitos seguimentos da vida do século XIX, alcançando notável distinção na maioria deles: general, político, administrador, legislador e reformador. Seu império se estendeu da Holada à Westfália, de Madrid ao Norte da Itália, por seu gênio e por sua espada, o antigo regime, as velhas ancestralidades feudais foram fortemente sacudidos em suas bases, tanto que Jean Tulard [4] assevera que, anos mais tarde, Carl Marx conferiu à Napoleão o título de grande destruidor do regime feudal alemão.

Uma edição francesa
Portanto, Balzac houve por bem classificar os mais de 500 aforismos que recolheu em capítulos: “O republicano e o cidadão”; “Arte militar”; “O soberano e o organizador”; “Experiência e infortúnio”. Em verdade, o autor de “Mulher de trinta anos” utilizou-se do mesmo princípio adotado por Amandou Guillöm de Montlèon quando este compilou as observações de leitura, à margem de “O Príncipe” de Maquiavel, feitas por Napoleão em diversos momentos de sua vida e publicadas pela primeira vez em Paris em 1816. Guillöm de Montlèon já naquela época sentiu a necessidade de indicar se o comentário pertencia ao general, ao cônsul, ao imperador, ou ao exilado [5].

Nada obstante, essas máximas estão repletas de um fatalismo genuíno. O leitor se vê incapaz de desprezar, por exemplo, a genuína aptidão de moldar o próprio destino que Napoleão provou possuir. A forma com que o Imperador constrói cada um desses pensamentos também leva a marca do gênio. Nesse ponto, não seria nenhum absurdo dizer que Balzac prestava uma homenagem a um par, por certo que Napoleão era dono de um estilo literário único como descreve Gustave Lanson, citado por Euclides Mendonça em seu livro “A Força do Estilo de Napoleão”:

Ele [Napoleão] desenvolveu uma forma curta, brusca, tensa, nervosa admiravelmente expressiva, e seja por seu realismo, seja pela imagem que ele procurava passar de si mesmo, admiravelmente adaptado à alma elementar das multidões e das tropas. [6].

M. Émile Henriot, crítico literário do “Le Monde” de Paris, também citado no já referido livro de Euclides Mendonça, é categórico ao afirmar que Napoleão possuía “O dom do estilo, o talento de se expressar com vigor, com precisão, com elegância e colorido, na tonalidade e no ritmo inconfundíveis que lhe são peculiares. Tais atributos são próprios de um escritor nato.”[7].
O busto de Balzac de Auguste Rodin
Somados todos esses múltiplos ingredientes temos a fórmula que explica os motivos pelos quais a leitura dos aforismos de Napoleão ainda é atraente nos dias de hoje, bem como aqueloutros que confirmam a genialidade do escritor que os catalogou dois séculos atrás, já antevendo que seria “o mais belo livro” daquela e de outras épocas. Os sutis epigramas do Imperador despertam a imaginação do leitor que, por um momento, se julga capaz de empreender feitos equivalentes àqueles que um dia foram levados a efeito por ele. As breves sentenças proferidas pelo Vencedor de Marengo estão impregnadas de sua própria tragédia. A última delas, em especial, para citarmos um bom exemplo, dita pelo imperador deposto e exilado em Santa Helena, merece ser lida e relida, diversas vezes, e, quem sabe, recitada como um mantra em homenagem à frágil transitoriedade das coisas terrenas:

Novo Prometeu, vejo-me atado a uma rocha, onde um corvo [8] me rói as entranhas. Eu me havia apoderado do fogo celeste para dotar a França, e o fogo voltou à sua origem. Eis-me aqui. [9]..

____________________________

[1] ^  A Ordre National de la Légion d'Honneura condecoração honorífica que ainda hoje é a ordem máxima concedida pelo Governo francês, foi instituída pelo próprio Napoleão em 1802.

[2] ^   SCHILING, Voltaire. Balzac e o imperador. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2006/03/07/000.htm>. Acesso em: 05 jan. 2011, às 03h00min.

O Adeus de Fontainebleau



DOMINGO, 16 DE JANEIRO DE 2011

O Adeus de Fontainebleau

Que Ce Dernier Baiser Passe Dans Vos Coeurs!

No dia 20 de abril de 1814, em um dos momentos mais dramáticos e arrebatadores de sua epopéia, o Imperador Napoleão I, acompanhado de alguns poucos oficiais, desceu as escadarias em forma de ferradura do Palácio de Fontainebleau, que dão acesso ao Pátio do Cavalo Branco, para se despedir de sua Velha Guarda. Oficialmente, naquele momento, ele já deixara de ser o imperador dos franceses. Ele, pois, havia abdicado. Terminara o seu sonho de uma Europa Unificada sob o domínio francês.

Dois anos antes, aqueles bravos homens haviam marchado sob o seu comando através das estepes russas até Moscou. Durante toda a campanha eles não conheceram derrota em uma batalha sequer. O Czar, porém, abandonou a cidade e os poucos habitantes que restaram preferiram entregar sua capital às chamas a entregá-la aos franceses. E, assim, na noite em que Napoleão dormiu no Kremlin, Moscou ardeu. A retirada foi desastrosa. O “General Inverno” mostrou mais uma vez porque o solo da sagrada Mãe Rússia jamais foi conquistado pelo inimigo estrangeiro. O frio extremo, para o qual não estavam preparados, a fome que grassava entre as tropas e as investidas dos terríveis cavaleiros Cossacos ceifaram a vida de aproximadamente 570 mil homens (NICOLSON, 1987, p. 242). Com isso, La Grande Armeé, o Grande Exército de Napoleão foi desbaratado. Estima-se que a fina-flor da juventude francesa pereceu sob camadas de neve e trespassada pelas lanças dos Cossacos.


A fatalidade, contudo, não deteve o ímpeto do Imperador. A França cedeu mais uma vez seus filhos e um novo Grande Exército foi paramentado com as cores vibrantes da bandeira tricolor e marchou novamente sob o estandarte invencível da Águia Imperial. Nas primeiras páginas do clássico romance “A mulher de trinta anos”, o grande inventor da humanidade Honoré de Balzac (1973, p. 17-18) descreve o desfile do Imperador e sua guarda que partiam rumo a uma nova campanha:

Esse domingo era o décimo terceiro do ano de 1813. No dia seguinte, Napoleão partia para essa fatal campanha durante a qual ia perder Bessières e Duroc, ganhar as memoráveis batalhas de Lutzen e Bautzen, ver-se traído pela Áustria, pela Saxônia, pela Baviera, por Bernadotte, e disputar a terrível Batalha de Leipzig. A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que por tanto tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha guarda ia executar, pela última vez, as sábias manobras cuja pompa e precisão espantaram algumas vezes até o próprio gigante, que se preparava então para o seu duelo com a Europa. Um triste sentimento levava às Tulherias uma brilhante e curiosa população. Todos pareciam adivinhar o futuro, e pressentiam talvez que, mais de uma vez, a imaginação teria que retraçar o quadro daquela cena, quando dos tempos heróicos da França adquirissem, como hoje, cores quase fabulosas.

As dificuldades, naturalmente, iam além da inexperiência dos neófitos combatentes. O insucesso da Campanha de 1812 inflou o moral das nações inimigas e uma nova coalizão se levantou contra Napoleão. As cinco coalizões anteriores haviam fracassado diante do Imperador, mas a Campanha de Leipzig foi marcada por vitórias pírricas: Champaubert, Montmirail, Château-Thiery, Vauchamp, Montereau, Craonne e Reims, foram combates vitoriosos e inúteis. Sem conseguir obter uma vitória que garantisse estabilidade em longo prazo, Napoleão recua.

Granadeiros da Velha Guarda
Segundo Paul Johnson (2002, p. 164) O Imperador houvera elevado o nacionalismo francês “a gigantescas alturas”, porém despertara outras forças nacionalistas que se aliaram contra ele e contra a França e os avassalaram. A França, portanto, caiu. O inimigo ocupa Paris. Os marechais de Napoleão exercem pressão no sentido de que ele abdique. Quando ele, por fim, decide renunciar em favor do filho, O Rei de Roma, o Senado Francês já o havia deposto e optado pela volta de um Bourbon ao trono. Um Senado ainda composto por alguns dos regicidas que votaram pela morte de Luis XVI em 1792. A restauração dos Bourbon, que um ano antes parecia improvável, havia se tornado uma saída inevitável, ante a falta de outras perspectivas viáveis. Entrementes, uma turba de monarquistas derrubava a estátua de l’Empereur do Alto da Coluna Vendôme. Diante desse quadro desolador, conforme afirma Steven Englund (2005, p. 455), a Caulaincourt, o Imperador pareceu estóico: “Nos seus dias de sofrimento e o vi tal como nos dias de glória e prosperidade”.

Contudo, Alexandre Dumas (2004, p. 130), célebre autor de “O Conde de Monte Cristo,” e filho de um general de Napoleão, diz que quando os aliados declararam que o Imperador, pessoalmente, era o único obstáculo à paz geral, se lhe restaram apenas dois caminhos: “sair da vida à maneira de Aníbal ou descer do trono à maneira de Sila.” Há rumores de que o primeiro caminho foi tentado, sem sucesso, de maneira que Napoleão decidiu recorrer ao segundo, nesses termos:

Tendo as potencias aliadas proclamado que o imperador Napoleão era o único obstáculo ao restabelecimento da paz na Europa, o imperador Napoleão, fiel a seu juramento, declara que renuncia por ele e seus herdeiros ao trono da França e da Itália, pois não há sacrifício pessoal, incluindo o da vida, que não esteja disposto a fazer pela França.

E, assim, naquele 20 de abril em Fontainebleau, o grande corso precisou dizer adeus à sua amada Guarda. Representantes das nações aliadas foram testemunhas nervosas, todos eles estavam visivelmente emocionados. Dentre eles havia um russo, o Conde Chuvalov; um austríaco, o general Koller; um inglês, o coronel Campbell; e conde prussiano Walburg-Truchess.

Os homens aos quais Napoleão dirigiu o seu adeus representavam a unidade de elite do Grande Exército. Os Imortais, como eram conhecidos os combatentes da Guarda Imperial, compunham o destacamento mais respeitado, mais temido da Europa. Por duas décadas, de uma invencibilidade quase mítica, a simples visão de suas altas barrentinas cobertas de pêlo de urso espalhavam o terror entre os inimigos do Império. Os velhos Peles de Urso ajudaram seu Imperador a expandir os limites da glória, vencendo, sempre vencendo: seja sob o olhar dos “40 séculos” aos pés da grande Pirâmide de Guizé; seja cruzando os Alpes nas pegadas de Aníbal e subjugando o inimigo na terra dos antigos Césares; ou conduzindo a vitoriosa Águia nos campos de Marengo, Friedland, Wagram e Austerlitz.

A Águia, símbolo máximo do Grande Exército
Oficialmente, a Guarda Imperial foi instituída em 1804, ano da coroação de Napoleão, mas antes disso foi a Guarda Consular que data de 1799, que por seu turno havia surgido da união da Garde du Directoire exécutif e dos Grenadiers près de la Représentation nationale. Os Peles de Ursoeram a divisão de elite mimada por seu imperador, veteranos de muitas campanhas:Les Immortels.

Os Imortais estiveram sempre prontos a ouvir as exortações de seu Imperador e em 20 de abril de 1814 não foi diferente. A Guarda era toda ouvidos, impecavelmente formada no Pátio do Cavalo Branco.

O professor Euclides Mendonça (2008, p. 101) lembra que foi exatamente nas proclamações que o Imperador se destacou e atingiu o auge de sua expressão literária. Para Mendonça, as proclamações de Napoleão constituem um modelo de eloquência militar, campo em que o Vencedor de Austerlitz não encontra adversários na História. Lanfrey (apud MENDONÇA, 2008, p. 101), para quem Napoleão foi muito inferior a César “no tocante ao bom senso”, reconhece que os discursos de l’Empereur possuiam, em grau muito superior aos do romano, “o dom de arrebatar e impactar as imaginações”.

A proclamação nada mais é senão uma pequena peça de oratória, que apresenta uma estrutura clássica: “um breve exórdio, um núcleo de ideias e uma rápida peroração” (MENDONÇA, 2008, p. 103). Napoleão, um mestre nessa arte, não perdia tempo com perífrases e intróitos. Antes, ele abordava com vigor o assunto, dispensando as transições e se apropriando das idéias, as quais bebeu nos clássicos e que se lhe surgiam em turbilhão. Sua linguagem não escondia suas emoções, mas, isto sim, as deflagrava como uma salva de metralha, que atingia em cheio os seus interlocutores.

Desse modo, as palavras que ele diria aos Imortais, naquele dia, com justiça, passariam à História. A proclamação ficou conhecida como o “Adieux à la Garde”. Momentos antes, Napoleão havia escrito uma carta à Maria Luiza dando conta que estava de partida, que dormiria aquela noite em Briare e no dia seguinte partiria novamente rumo a Saint-Tropez. Na carta, ele se despede, assegurando à Imperatriz que ela poderá sempre contar com a sua dedicação, constância e coragem e enviando um beijo ao Rei de Roma. Ele não desconfiava que jamais veria sua imperatriz e seu “reizinho” novamente.

É chegado o momento: Napoleão se virou para cumprimentar os oficiais que o acompanhavam e desceu as escadas com passo firme. Lá estavam os granadeiros da Velha Guarda formados. As baionetas brilharam à luz do dia quando o Imperador chegou para se colacar mais uma vez entre seus homens. Eis as suas palavras:

Soldados da minha Velha Guarda,
Venho apresentar-vos minhas despedidas.

Durante vinte anos a fio, muitas e muitas vezes, deparei-me convosco, palmilhando o caminho da honra e da glória.
Nos dias que correm, como também, nos dias de nossos sucessos, nunca deixastes de ser modelos de bravura e de lealdade. Com homens de vossa estirpe, nossa causa não estaria perdida. Mas a guerra parecia interminável.

Corríamos o risco iminente de um conflito civil. Isso ocorrendo, a França tornar-se-ia ainda mais infeliz.
Eis por que sacrifiquei todos os meus interesses em prol dos interesses da pátria e me afasto. Quanto a vós, meus amigos, continuai servindo à França. Para ela estiveram voltados todos os meus pensamentos. Para ela convergirão sempre meus melhores anelos. Não deploreis meu infortúnio. Se aceito sobreviver-me é, ainda, para servir vossa glória. Pretendo escrever sobre os grandes feitos que empreendemos juntos.

A emoção o sufocou, obrigando-o a uma curta pausa. Max Gallo (2003, p. 570) lembra que nesse instante ouviu-se apenas os soluços dos bravos granadeiros. Então o Imperador continuou:

Adeus, filhos meus. Gostaria de estreitar-vos a todos junto ao meu coração. Que eu beije, pelo menos, a vossa bandeira!

Nesse momento, o General Petit se adiantou trazendo consigo a bandeira com a Águia reluzente no topo da haste. O Imperador, não sem grande emoção, beijou a bandeira e abraçou Petit. Encerrando, ele diz:

Adeus, mais uma vez, meus velhos camaradas! Que este último ósculo perpasse vossos corações!

Ao final, Napoleão abraçou os fiéis oficiais que lhe cercavam e subiu no carro que se pôs imediatamente a caminho. Alexandre Dumas (2004, p. 130) escreveu que, durante um ano, o mundo pareceu vazio.

Certo é que o 20 de abril de 1814 foi um dos dias mais emocionantes da saga napoleônica. A cena da despedida foi retratada na famosa pintura romântica de Antoine Alphonse Montfort, chamada “Adieux de Napoléon à la Garde impériale dans la cour du Cheval-Blanc du château de Fontainebleau”. O astro Rod Steiger, no filme Waterloo, de 1970, interpretou a cena em umaadaptação cinematográfica que, apesar da alteração do texto original, ainda emociona.

Em 4 de maio de 1814, Napoleão aportava em Elba. A história daquele lugar jamais seria a mesma novamente. A Velha Guarda teve que esperar com paciência, em um “interminável apresentar-armas, enquanto retiniam ainda as últimas palavras do imperador deposto” (BONHEUR, 1982, p. 133), mas, doze meses depois, Os Imortais marchariam novamente sob às ordens de seu Imperador.

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REFERÊNCIAS:

BALZAC, Honoré de. A mulher de trinta anos. Tradução de Casimiro Fernandes e Wilson Lousada. São Paulo: Círculo do Livro, 1973. Título original: Le femme de trente ans.

BONAPARTE, Napoleão. Memórias de Santa Helena. Tradução de Olga de Garcia. Introdução e notas de Roger Peyre. Edições Meridiano: Porto Alegre, 1941.

BLOND, Georges. Napoleão: os cem dias. Tradução de Sieni Maria Campos. Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 1998. Título original: Napoléon: Lês cent juors.

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