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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O incêndio de Moscou, 1812

 
História - Mundo
MUNDO
O incêndio de Moscou, 1812
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O incêndio de Moscou 
» Introdução 
» A reação de Napoleão
 
Durante cinco dias seguidos a cidade de Moscou, a antiga capital do Império Russo-Ortodoxo, ardeu violentamente. Ocupada pelo Grand Armée de Napoleão Bonaparte em 14 de setembro de 1812, a cidadela dos czares negou-se se render aos invasores. Quando as chamas finalmente cederam, no dia 20 de setembro, tudo era um imenso entulho de madeira queimada e pedra calcinada. Tratou-se de uma tragédia tão grande como a do terremoto de Lisboa de 1755. Milhares de soldados franceses que a ocuparam, uns cem mil deles, tiveram que acampar nas ruas e nas praças ao desabrigo do tempo. Aquilo foi, porém, apenas um dramático aviso do que os invasores iriam sofrer nos meses seguintes quando foram forçados a bater retirada, em pleno inverno, pela vastidão das terras russas.
A Moscou da fé e dos czares

As labaredas alcançam o Kremlin (tela de Vereschangin)
Desde 1450, Moscou fora o epicentro do expansionismo russo, que conquistara deste então imensas regiões à Oeste, à Leste e ao Sul da Rússia atual, agregando-as ao império dos czares. Coube a Pedro o Grande, a partir da fundação de São Petersburgo, situada na embocadura do rio Neva, nas proximidades do mar Báltico, inaugurada em 1703, transferir o trono de Moscou para lá. Porém, tal translado nunca satisfez a população nativa que via na nova capital o predomínio da influência de idéias e de culturas estranhas à verdadeira Rússia.Moscou não. Sede do Patriarcado da Igreja Russo-Ortodoxo e do Santo Sínodo, com suas incontáveis igrejas e catedrais de cúpulas douradas, povoadas com relíquias sagradas e com ícones de tradição bizantina, centro de peregrinação que se orgulhava em ser a “Quarta Roma” (a herdeira de Jerusalém, Roma e Constantinopla), cidade santa da cristandade oriental, ela era a verdadeira e única metrópole que continuava morando no coração e no sentimento do povo russo. Afinal, lá estava também o Kremlin, a impressionante fortaleza-imperial que dominava a praça Vermelha, no plano central de Moscou, e inquestionável símbolo do domínio autocrático dos czares. Edifício que inspirava temor e respeito em milhares de súditos do grande império euro-asiático.
Por isso mesmo, pelo fantástico imaginário que ela exercia sobre as populações russas como a mais autêntica representação de fé e de poder que conheciam, é que Napoleão, quando invadiu a Rússia em 23 de junho de 1812, dirigiu o grosso das suas divisões diretamente para lá. “Moscou”, disse ele fascinado, “la capitale asiatique de ce grand empire; la ville sacrée des peuples d´Alexandre; Moscou, avec ses innombrables églises en forme de pagodes chinoises” (Moscou, a capital asiática deste grande império: a cidade sagrada do povo de Alexandre; Moscou com suas inúmeras igrejas em forma de pagode chinês)
A espera da rendição de Moscou

Napoleão a espera da rendição que não venho
A campanha da Rússia até ali fora formidável. Napoleão conseguira o feito de mobilizar mais de 600 mil homens vindos de toda Europa para acompanhá-lo na aventura. Apesar da resistência aumentar conforme os franceses adentravam no território, ninguém no exército do czar era páreo para enfrentar os 220 mil soldados que Napoleão selecionara para serem o eixo da ofensiva sobre o coração da Rússia, nem o general Bagration nem o então comandante-supremo Barclay de Tolly. A espetacular batalha nas proximidades de Moscou, que os russos chamaram de batalha de Borodino, uma das maiores da suas história, travada em 7 de setembro de 1812, - na qual, em dez horas de canhoneios e metralhas, os franceses perderam 20 generais e 33 mil homens entre mortos e feridos - não conseguira deter o invasor nem fazê-lo bater em retirada. Então foi a vez do recém nomeado generalíssimo Kutuzov, um oficial veterano que enfrentara Napoleão em diversas ocasiões, recuando de Borodino, convencer o Conselho de Guerra, reunido numa izbá na colina de Poklonaia, a abandonar a cidade e salvar o exército. Que sacrificassem Moscou ao invasor por que - garantiu ele depois ao czar - “Graças a Deus, será a sua última vitória”.Napoleão, uma semana depois, acampou no mesmo lugar tendo à vista as cúpulas douradas das inúmeras igrejas da imensa cidade que brilhavam como se fossem pequenos sóis no horizonte. Esperou ali , como disse aos seus generais, a chegada da “delegação dos boiardos”, os representantes da nobreza russa que deveriam vir entregar-lhe as chaves dos portões num ato de rendição. Espera inútil. A vanguarda francesa que penetrara na cidade, a exceção de alguns bandos de criminosos e salteadores que zanzavam bêbados pelas alamedas desertas de gente , não encontrara ninguém “respeitável” autorizado a pedir paz. No dia 15 de setembro, um esquadrão da cavalaria da Guarda Imperial escoltou Napoleão rumo ao Kremlin em meio a ruas fantasmas.
A evacuação da população fora um acontecimento espantoso. Sabendo do resultado da batalha de Borodino, alguns até bem antes, os moscovitas saíram da cidade em massa tal um bando de aves migratórias. Não houve nenhuma preparação. Tal como o povo da cidade de Smolensk fizera um mês antes, só queriam deixar as cinzas e o entulho para o invasor. Mesmo antes do confuso e atabalhoado Conde Rostoptchine, governador militar da região de Moscou, ordenar a evacuação , centenas de habitantes já haviam se encaminhado para a estrada com o que podiam. Os ricos com suas carruagens e caleches, os burgueses à cavalo, e os remediados com seus bois e suas mulas, ou a pé mesmo, deixaram tudo o mais para trás. Em menos de 24 horas a metrópole virara um acampamento fantasma. Ficaram ainda escondidos, os bem pobres, os miseráveis, e os sapadores de Rostoptchine encarregados de por fogo em tudo o que desse e pudessem. O espanto dos franceses foi total, como se verifica pelo testemunho do sargento Bourgogne:
Nós ficamos surpresos quando não vimos ninguém nos arredores...Nós não conseguimos identificar qual o motivo de tão completo silêncio: como uma cidade tão bela e tão perfeita podia estar sombria e deserta! Nós escutávamos apenas os nossos passos.. Naturalmente que nós não falávamos muito.. Primeiro tentamos nos convencer de que os cidadãos estavam dentro das suas casas nos vigiando...não podíamos imaginar que residências tão bonitas e ricas podiam ter sido abandonadas por seus moradores...Aproximadamente uma hora depois de nós termos entrado na cidade o fogo começou... pensamos que alguns dos saqueadores teriam provocado o fogo sem intenção... Nós não pensávamos que os russos pudessem ser tão bárbaros a ponto de porem fogo nas suas propriedades e que pudessem destruir uma das mais belas cidades do mundo

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