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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O incêndio de Moscou e a reação de Napoleão


 
História - Mundo
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O incêndio de Moscou e a reação de Napoleão
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O incêndio de Moscou 
» Introdução 
» A reação de Napoleão
 
Quando as chamas atingiram os muros do Kremlin, onde Napoleão recém se instalara, ele ficou aterrado. Tomou aquilo como um mau agouro. Um sinal de dias futuros ainda piores. Impressionou-se com o fato dos russo voluntariamente abrasarem as suas coisas, entregando o seu acervo e a sua história à destruição completa e total. Aquela determinação deles em travar uma guerra sem quartel e sem acordo, bem ao contrário dos habitantes de Viena, de Berlim, de Munique, de Milão, e de tantas outras cidades que ele submetera antes, abalou sua autoconfiança e o seu sangue frio. Leitor voraz da História, Napoleão logo ligou o episódio as guerras dos citas, os terríveis cavaleiros do sul da Rússia que haviam batido o imperador Dario, da Pérsia, em 515 a.C., quando ele pretendera controlar a embocadura do rio Danúbio, e cujas vivas façanhas guerreiras Homero registrara.Enquanto isso as labaredas devoravam tudo, alimentado-se da madeira com que a maior parte das moradias moscovitas eram construídas. Cumpria-se assim a promessa de Glinka, um personagem de Tolstoi (in Guerra e Paz, Parte IX, cap. XXII) que disse num reunião patriótica que "o inferno deveria ser combatido pelo inferno". Sobraram, pelo menos em pé, muitas das grandes igrejas, alguns mosteiros, e um e outro prédio público mais imponente, desde que erguidos com tijolos e pedras.
A destruição total da cidade

Napoleão e a sua guarda verificando os estragos (setembro de 1812)
O próprio Kremlin, de onde Napoleão foi retirado as pressas por uma passagem secreta até o rio Moskwa, sendo alojado num palácio fora da cidade, ficou ameaçado. Uma equipe da fiel guarda, conduzida pelo marechal Davout, é quem conseguiu evitar que a antiga fortaleza também fosse engolida pelo fogo que crepitava ao redor da praça Vermelha. Naquela situação, as montarias da guarda imperial viram-se privilegiadas porque, para protegê-las, alojaram-nas nas naves dos prédios religiosos e das catedrais, viradas em cavalariças. Onde antes os sacerdotes distribuíam suas bênçãos e hóstias agora viam-se forragens para os animais, enquanto que as clarinadas ecoavam por onde outrora ouviam-se os sons dos órgãos e dos sinos das igrejas.Quando o braseiro amainou, amansado por uma providencial tormenta, testemunhou o Conde de Ségur (A derrota de Napoleão na Rússia, Paris, 1825) que milhares de soldados bivaqueavam pelas ruas e praças misturados ao que restara da população civil de Moscou, a gente paupérrima que não teve condições de evadir-se a tempo da cidade e que naquele momento de agonia se irmanava aos invasores na luta para sobreviverem aquele inferno. Uniformes e rostos enegrecidos, cabelos e dragonas chamuscadas, com sede e famintos, a soldadesca andava às tontas em meio daquele colossal entulho ainda em brasas.
A pilhagem e a vingança



Na hora da pilhagem, até remanescentes de tropas russas que deambulavam por lá perdidos dos seus regimentos, juntaram-se aos soldados de Napoleão para esvaziar os palácios e as mansões do que restara de aproveitável. Quanto à real responsabilidade pelo incêndio é interessante recorrer ao testemunho de von Clausewitz, o oficial prussiano conhecido teórico da guerra, que estava presente, atuando na assessoria do exército russo, quando Moscou ardeu: “A confusão que vi nas ruas enquanto a retaguarda [russa] se retirava; o fato de que a fumaça vista pela primeira vez elevando-se das extremidades dos subúrbios onde os cossacos agiam convenceram-me de que o incêndio de Moscou foi resultado da desordem e do hábito dos cossacos de primeiro saquear e depois por fogo em toda as casas antes que o inimigo pudesse utilizá-las [...] Foi um dos acontecimentos mais estranhos da história, que um evento que tanto influenciou o destino da Rússia pudesse ser como um bastardo nascido de um caso de amor ilícito, sem ter um pai que o reconhecesse.” (“A Campanha da Rússia de 1812”, cit. John Keegan _ Uma História da Guerra, SP. 2002, pag.23). 
Rendição dos russos? Nem pensar. Acampados ao longe, em meio aos bosques que cercavam Moscou, vendo a enorme e compacta fumaça subindo aos céus em golfadas, com peito contraído pela dor em ter que assistir impotentes a outrora bela cidade virar fumaça, as tropas do general Kutuzov só pensavam numa coisa: vingança! Vingança! O imperador, perplexo com a guerra que os russos propunham, ainda tardou quase um mês em dar a ordem de recuar. Quando o fez, em 19 de outubro de 1812, já era tarde para salvar seus homens, milhares deles, do Manto de Nesso que caiu sobre eles, envenenado pela neve e pelo gelo que os cobriu durante a catastrófica retirada de volta para o Ocidente.
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