MEMÓRIAS de
Napoelão Bonaparte
Trecho do livro:
Caio Zip, o viajante do tempo, em:
Napoleão
Bonaparte na Rússia
Como simples cálculos matemáticos podem ser
cruciais para tomar decisões estratégicas
nesta batalha de impérios
Direitos autorais: Regina Gonçalves
Nasci na
cidade de Ajaccio, em uma das mais belas ilhas mediterrâneas, a
Córsega, em 1769. Esse foi um ano triste, pois foi o ano em que a
minha ilha foi conquistada pela França. Meu pai, Carlo Bonaparte,
aliou-se aos franceses e ocupou altos postos administração local.
Graças à ajuda do governador francês da Córsega, meu pai me inscreveu
quando eu tinha dez anos na escola militar de Brienne, na Champanha.
Foi em
Brienne que comecei minha luta por um pouco de paz. Hum! Como aqueles
garotos da escola ousavam pronunciar o meu nome com acento corso, o
que soa como "Napolioné" Na-paille-au-nez
( palha no nariz)
Mas pelo menos nem todos me viam como um intruso corso. Foi bom ouvir
do meu professor que achava que eu era "uma rocha de granito
aquecida por um vulcão”. Como eu batalhei para nas horas dos recreios
conseguir construir no pátio da escola minha pequena cabana com
folhagens para que não me atrapalhassem nos meus estudos que mais
tarde descobriria que me seriam de grande valia para minha próspera
carreira. Mas foi na Escola Militar Real de Paris que, estudando com o
matemático Monge, minha habilidade com a matemática ficou mais
conhecida.
Foi assim,
em meio aos intensos exercícios de matemática, que me deixei embriagar
pela leitura sobre a conquista da cidade santa pelos cruzados, narrada
por Tasso no livro “Jerusalém Libertada”. Fui experimentando então
"as primeiras emoções da glória", como assegurei ao conde de Las
Cases, o meu memorialista (Memorial de Santa Helena).
Nada
escapava à minha grande curiosidade. Além da minha paixão pela
matemática, história e geografia, devorei Voltaire, Rousseau,
D'Alembert, Mably e o padre Raynal. Com a mesma vontade li e reli os
clássicos antigos, especialmente aqueles cujas linhas eram preenchidas
pelas mãos de Plutarco e de Tito Lívio. Também fez parte do meu
crescimento o meu grande amor pelo teatro francês encenado por Racine,
Corneille e Molière.
Após
sair da Escola Militar, eu me juntei ao corpo de artilharia, uma
espécie de elite intelectual do exército, cujo nível educacional era
bem melhor. O meu sangue menos azul e aguado do que o da alta nobreza
que dominava o exército francês me fez destacar. Uma das coisas que
me lembro bem desse tempo de escola foi o meu protesto que expus em
forma de projeto. Definitivamente, combati com a ajuda do papel e da
pena para acabar com o maior dos inimigos de um grande militar, o
exagero de criados e de luxo que cercavam os alunos tornando-os, ao
meu ver, fracos e alvos fáceis aos sofrimentos das guerras que
futuramente haveríamos de comandar.
Sofrimentos... Sofrimentos das guerras não são difíceis para mim. O
mais difícil são as batalhas que travo comigo mesmo todo os dias.
Depois da morte de meu pai a batalha só aumentou. Eu, com apenas
dezesseis anos, eis-me oficial! Mas tendo de cuidar de minha mãe que
ficou sozinha para cuidar dos meus irmãos José, Luciano, Carolina,
Paulina, Elisa, Luís e Jerônimo com apenas aquele soldo do exército...
Isso é o que chamo de grande carga, de um grande passo.
Ah, a
revolução! Quando veio a Revolução Francesa, em 1789, a recebi com
entusiasmo.
Em 1793, a
Inglaterra ocupou a Córsega e minha família foi exilada para o porto
francês de Toulon. Essa cidade rendeu-se a uma esquadra inglesa, mas
eu tive a sorte de ter meu plano de contra-ataque, recusado inúmeras
vezes, finalmente aprovado pelo governo francês da época. Toulon foi
reconquistada por mim, o capitão-canhão, como haviam me apelidado, e
graças a esse grande evento, minha vida mudou, tornei-me
general-de-artilharia.
Em 1794 fui
preso por causa de minhas conexões políticas, mas logo fui solto, após
breves cinco dias, quando o governo da Convenção caiu e o Diretório,
muito menos radical, entrou em seu lugar. Quando houve uma rebelião
contra o novo governo em Paris, o general comandante das forças leais
ao Diretório, Barras, chamou-me para comandar a artilharia do governo.
A rebelião foi derrotada e, como recompensa, fui promovido a
major-general
O primeiro comando chegou a minhas mãos em março de 1796: o Diretório, confiante em minhas habilidades, nomeou-me para liderar o exército francês que lutava na Itália. Lá, venci mais e mais batalhas, mas foi só depois da vitória contra a Áustria, em Lodi, que eu passei a me considerar um homem superior, destinado a realizar grandes coisas. Já nessa época tinha tanto prestígio e minhas vitórias davam tanto dinheiro à França, graças aos saques, que eu me senti poderoso o suficiente para desafiar o governo do Diretório.
Depois da
Itália, fui para o Egito. Ah, o Egito! Foi lá que tive a divina
inspiração de fazer meu famoso discurso para meus soldados ao lado das
pirâmides: “Soldados da França, do alto dessas pirâmides quarenta
séculos vos contemplam!” Sim, tentei com todas as minhas forças
cumprir minha promessa. A minha missão ao
invadir o
Egito, desembarcando em Alexandria, era cortar o caminho britânico
para a Índia, mas infelizmente meus comandados não tiveram êxito em
contornar certos obstáculos.
Ao lado dos
mil canhões havia um exército de 175 sábios, tais como: astrônomos,
geômetras, matemáticos, químicos, mineralogistas, técnicos, pintores,
poetas... Esses homens foram os grandes vitoriosos, pois tiveram que
“batalhar” para poderem trazer luz ao antigo Egito. Eu – tal como o
conquistador Alexandre, o Grande (que levara, em 334 a.C., um conjunto
de especialistas e de filósofos gregos para estudar o Oriente) –
queria somar à conquista militar os ganhos científicos que iria
revelar ao mundo. Foi assim que abri o Egito aos olhos da ciência
européia que iria trazer à luz o passado daquela civilização esquecida
e enterrada nas areias milenares.
Soube mais
tarde que graças à minha descoberta, desenterrada por um dos meus
soldados, a Pedra Roseta como ficou conhecida, proporcionou a chave
que permitiu decifrar a escrita hieroglífica egípcia. O texto que
aparecia no fragmento basáltico era um elogio a Ptolomeu V e estava
escrito em demótico, em grego e em caracteres hieroglíficos. A versão
grega permitiu que um homem, a quem tive o prazer de conhecer, Jean
François Champollion, decifrasse a escrita egípcia. Este meu achado
representou uma contribuição fundamental para a arqueologia egípcia.
Apesar de
minhas vitórias em terra, só consegui retornar à França após um ano e
meio, pois minha esquadra tinha sido massacrada na batalha naval de
Abouquir pelo almirante inglês, a pedra no meu caminho, Horatio
Nelson. Todavia, ao tomar conhecimento que o norte da Itália que eu
havia conquistado fora
recuperado
pelos austríacos tomei a sofrida decisão de abandonar meus soldados
momentaneamente. Mandei preparar duas fragatas e duas pequenas
embarcações e retornei secretamente a Paris. O governo do Diretório
pensou em me prender por ter abandonado meu exército no Egito. Como
ousariam! Eu já era tão popular, que nada mais podia me barrar!
Em 10 de novembro de 1799 (dia 18 de brumário, segundo o calendário republicano) eu, com o auxílio de militares e membros do governo, derrubei o Diretório. Também dissolvi a Assembléia e implantei o Consulado. Alguns a chamaram de uma ditadura disfarçada, mas eu nem me importei.
O Consulado
foi o período de 1799 a 1804, no qual eu promulguei uma nova
Constituição, reestruturei o aparelho burocrático e criei o ensino
controlado pelo Estado. Enfim estava fazendo da França um país cada
vez melhor.
Em 1804
promulguei o Código Napoleônico, que garantia a liberdade individual,
a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada e o
divórcio, e também o primeiro código comercial, que tratava o falido
com muito rigor.
Em 1805,
decidi adotar o calendário gregoriano novamente. Se realizei um
governo ditatorial? Ora só porque impus a censura à imprensa? Se
perdesse o controle da imprensa não agüentaria nem mais três meses no
poder. Outros me acusaram de usar a repressão
policial,
com o apoio do meu Exército para reprimir movimentos contra meu
governo. Também esses acusadores não entenderam porque tornei as
greves ilegais. As pessoas a quem devo temer não são as que discordam,
mas as que discordam e são covardes demais para dá-lo a perceber.
Em 1804,
após um plebiscito, eu coroei a mim mesmo
e a minha Josefine,
tomando das mãos do Papa Pio VII a coroa, com o título de Imperador
Napoleão I.
Sob o meu
comando, a França se tornou o primeiro país da Europa cujo exército
deixou de ser uma classe militar vivendo à margem da sociedade. Todo
francês podia ser convocado para o exército, um dos lemas herdados da
Revolução Francesa foi: todo cidadão é um soldado! Por isso, o país
mais populoso da Europa na época, com mais ou menos o mesmo número de
habitantes que a Rússia, podia colocar em armas quase tanta gente
quanto todos os seus adversários juntos somados. Dizem que cheguei a
me gabar, mais tarde, que poderia dar-me ao luxo de perder 30 mil
homens por mês, uma quantidade absurda de baixas para a época. Deixem
que digam o que quiserem. Os meus soldados sabem como me sinto, pois
sempre antes da batalha fazia questão de relatar a verdadeira situação
do que estávamos prestes a enfrentar.
Meu
estilo de guerra era uma grande inovação: fazia o possível para
que meus soldados andassem muito mais rápidos do que os do inimigo:
velocidade era minha grande característica. Para mim, lutar bem
significava andar muito: um bom soldado tinha que ser alguém capaz de
agüentar longas e árduas marchas.
Os meus
soldados não eram tão bem treinados quanto os inimigos, nem tinham
tanta disciplina, mas, em compensação, tinham muito mais iniciativa.
Eu sempre disse: muitas batalhas são ganhas por uma simples lembrança
de guerras passadas. Eu não sou tão bom estrategista como dizem,
apenas sou um estudioso de batalhas ocorridas em tempos idos. Eu
conheço todo o desenvolvimento e decisões tomadas pelos notáveis
homens que faziam da guerra uma arte, tais como: Alexandre – o Grande,
Aníbal – de Cartago, e Átila – Rei dos Hunos.
Eu também
gostava de lembrar aos meus generais que não se ganha uma guerra sem
cometer erros. Mas, para não serem derrotados, tinham obrigatoriamente
de errar menos que o inimigo.
Os hábitos do imperador
Eu tinha o
costume de calcular antecipadamente como seriam minhas guerras e
batalhas, e só entrava em combate depois de haver feito um
planejamento bastante preciso do que deveria ser feito, o que incluía
possíveis modificações em meus planos iniciais, em resposta às ações
do inimigo. Uma das coisas que eu fazia bastante uso era de espiões e
de patrulhas de cavalaria. Assim eu conseguia sempre descobrir com
antecedência o que o inimigo estava fazendo e, se possível, os planos
adversários. Gostava de atacar sempre, e nunca deixava o inimigo
derrotado recuar em ordem, mandando meus soldados perseguir o inimigo
para que ele não pudesse recuperar-se. Depois de uma batalha eu sempre
dava aos meus soldados os meus sinceros parabéns pela vitória, mas
nunca os deixava descansar; ao contrário, mandava que eles
perseguissem o
inimigo,
para que este não se organizasse, ficando sem poder receber reforços
ou novos suprimentos e reiniciar a luta.
Curiosidades
sobre Napoleão
Uma das
grandes curiosidades dessa minha figura enigmática seria minha
apreciação por vinhos. Eu freqüentava Épernay (cidade localizada no
coração da região de Champanhe) com tanta freqüência que Jean-Rémy
Moët, então dono da Moët & Chandon, construiu duas casas de hóspedes
para mim e minha comitiva.
Uma das
minhas frases que ficaram famosas em relação a vinhos foi: "Sem vinho,
sem soldados. Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário".
Um vinho
tinto foi tão importante na minha vida que um dos donos da firma
parisiense encarregada do meu fornecimento sempre me acompanhava nas
campanhas militares. Eu elogiava o fato de o Chambertin ser um tinto
encorpado e exigia que tivesse de cinco a seis anos de envelhecimento,
consumindo meia garrafa por refeição. Mas, fiel a um hábito da
infância, misturava-o com um pouco de água.
Reprodução caricatura de James Gillray mostra Napoleão (D)
disputando o mundo com o general inglês
William Pitt
Vários
episódios da minha vida se entrelaçam com minha bebida favorita. Para
a ocupação do Egito, por exemplo, levei uma provisão tão grande de
Chambertin que não consegui terminar. Retornei à França com ela, em
boas condições, e elogiei muito a resistência do vinho. Quando invadi
a Rússia, carreguei outro estoque enorme, pois sabia que a campanha
seria dura. Com copos
do grande
tinto festejei a minha vitória contra as tropas do general
Kutuzov,
na batalha de la Moscova, batalha de Borodino como os vencidos russos a
fizeram ficar conhecida e se dizem vitoriosos. Mas, daí por diante,
não tive muito a que brindar. Entrei em Moscou e a noite eu a vi em
chamas. Esperei a rendição dos russos, mas não veio. Em seu lugar veio
o rigoroso inverno russo que obrigou a mim e meu grande exército a
recuar. Na operação desastrosa, os inimigos cossacos me tomaram parte
do vinho, que especuladores ofereceram mais tarde em Paris como "Chambertin
retour de Russie".
Você
acredita que fui derrotado em Waterloo, pelo inglês Wellington e o
prussiano Blücher, por ter sido a única batalha na qual não levei meu
vinho preferido?! Pois acredite, muitos até sustentavam que morri na
ilha de Santa Helena, onde
fiquei exilado nos últimos seis anos da
minha vida, por falta de Chambertin! Como puderam dizer tais
zombarias?
É verdade
que eu preferia comer com as mãos e nos banquetes oficiais esfregava o
pão no molho que sobrara no prato, como se estivesse na minha casa na
Córsega. Eu também gostava de receitas vigorosas e pesadas. Eu adorava
sopas consistentes e o cozinheiro de origem suíça Dunand, que
trabalhou para mim a partir de 1805, esmerava-se nessas preparações
Uma das receitas que desenvolveu para mim recebeu nome militar: "sopa
do soldado". Era uma mistura de feijão branco, batata, e legumes e era
cozinhada com pouco líquido, pois eu a apreciava bem espessa.
Afinal, por
que perdi o poder? Mea culpa!
1) O meu
grande erro político foi com relação à Inglaterra, meu inimigo número
um. A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a industrializar-se, e
precisava do mercado europeu para vender seus produtos, principalmente
tecidos. Como eu queria que a indústria francesa, mais nova e mais
fraca, se desenvolvesse, eu fiz o possível para fechar a Europa aos
produtos ingleses, o que foi chamado mais tarde de Bloqueio
Continental. A família real portuguesa, por exemplo, veio para o
Brasil porque os meus exércitos invadiram Portugal como castigo pelo
fato dos portugueses ainda estarem negociando com a Inglaterra. Mas
esse tipo de ação transformou a minha guerra contra a Inglaterra, numa
guerra contra toda a Europa. Tão logo tinha uma vitória, os ingleses
conseguiam juntar um novo grupo de países, em coligações, para
enfrentar-me de novo. Em 1805, eu estava absorto nos preparativos
destinados à invasão da Inglaterra com um formidável exército que
reduziria os ingleses a pedaços, mas a grande derrota naval francesa
em Trafalgar pôs por terra o meu sonho da invasão. A esquadra inglesa
era comandada pelo almirante Horatio Nelson, que morreu nessa batalha,
três horas depois de receber um tiro de mosquete de um atirador de
elite, um mosqueteiro a bordo do navio Redoutable.
2) Em toda a minha carreira, nunca lutei uma batalha apenas me defendendo: eu amava atacar. Como eu decidia tudo, os outros não mandavam nada, sem minhas ordens, meus exércitos ficavam impotentes: praticamente nenhum outro general francês teve a chance de desenvolver por completo minhas habilidades militares. Com o passar dos anos, os inimigos da França foram aumentando e seus exércitos tornaram-se maiores e melhores. As operações militares ficaram cada vez mais complexas e nem eu seria capaz de planejá-las sozinho. Nessa hora, passei a sentir cada vez mais a falta de um grupo de oficiais experientes que pudesse planejar as batalhas antecipadamente (o que os exércitos chamam de Estado-Maior). O exército francês, como o de todas as potências, também tinha o seu Estado-Maior, mas esse nunca mandou sem mim.
3) No início, as minhas tropas francesas até chegaram a ser recebidas em muitos lugares, inclusive na Itália, como libertadoras. Beethoven e Goethe, os maiores artistas da época na música e na literatura, ambos alemães, eram meus admiradores. Beethoven compôs a sinfonia nº3 em 1803, denominada “Heróica” porque glorificava um herói ideal, ou seja, era dedicada a minha pessoa. No ano seguinte, o músico arrancou a dedicatória porque ficou sabendo que eu me coroei pelas minhas próprias mãos como imperador. Com o passar dos anos, de libertador passei a ser considerado um tirano, um ditador, cuja derrota seria prioridade para que os povos da Europa tivessem paz novamente. Como dizia a mim mesmo: “No exterior e na França eu só consigo governar graças ao medo que inspiro”. Meus soldados passaram a ser vistos como saqueadores. Se ordenasse assassinar um inimigo político, ou quebrar um acordo de paz, ou oprimir um país inimigo, todas essas coisas acabavam juntando-se e formando uma multidão de inimigos que tudo fariam para derrotar-me. Assim, com o passar dos anos, fui adquirindo, aos olhos dos outros povos, a imagem de ser o pior dos monarcas. De nada me adiantou casar, pela segunda vez, com a jovem princesa da Áustria, Maria Luiza que, com apenas 18 anos, da família dos Habsburgo, da mais tradicional nobreza européia, teve de me aceitar. Eu a amava muito. Tivemos um filho, um menino que tanto desejava para me suceder, que ficou conhecido como rei de Roma... Mas o casamento que pensei ser a aliança perfeita entre a França e a Áustria... Isso o casamento não conseguiu manter por muito tempo.
4) A
campanha contra a Rússia
Roupa do imperador usada na campanha de 1812
Foi o
grande desastre que mudou o rumo das minhas conquistas. Tudo começou
com os russos quebrando o acordo com a França de apoiar o Bloqueio
Continental contra os ingleses. Os russos, governados pelo Tzar
Alexandre, achavam que não seria possível deixar de negociar com a
Inglaterra. Por causa dessa quebra de palavra, eu organizei mais uma
de minhas expedições militares, a fim de puni-los. Para isso,
organizei o Grande Exército, perto de 600 mil homens, que deveriam
acabar com a raça dos russos.
Os russos
me enfrentaram sob o comando do marechal, comandante-chefe,
Kutuzov.
Apesar de não conseguirem vencer-me na Batalha de de Moscova, e mesmo
tendo nós franceses conseguido ocupar a cidade de Moscou, os russos
não se renderam. Fiquei a esperar demais pela rendição. Que erro! Já
estávamos com falta de suprimentos e o frio estava cruelmente
chegando. O frio era um adversário imbatível. A minha recusa em
reconhecer que estávamos sumariamente sendo derrotados pelos caprichos
da natureza, e até eu e meus homens sentirmos na pele que a Rússia era
muito longe da França, longe de tudo que conhecíamos, levou todos os
meus planos à bancarrota. O meu exército encontrou-se isolado do
mundo, foi ficando sem abastecimentos e, por fim, tivemos que
abandonar Moscou. A volta dos meus soldados no inverno, por azar o
mais rigoroso dos últimos anos, foi uma catástrofe: no total, o meu
exército napoleônico teve mais de 400 mil baixas, e nunca mais voltei
a ter um exército tão forte. A guerra na Rússia foi um péssimo
negócio. Eu me enganei, não quanto ao objetivo e à oportunidade
política dessa guerra, mas quanto à maneira de fazê-la.
A grande
decisão: A batalha das Nações
No inverno
de 1812-13 houve uma pausa nas lutas para que os exércitos
recuperassem suas perdas maciças. Retirei-me até a Alemanha onde
consegui reunir 130.000 tropas. Mas, desgraçadamente, uma grande
coalizão estava sendo formada contra a França. Os alemães, percebendo
que o exército francês tinha sofrido enormes perdas na Rússia,
juntaram-se à aliança formada pela Rússia, Inglaterra, Espanha e
Portugal.
No início,
infligi uma série de derrotas aos aliados, culminando com a batalha de
Dresden, em 26 de agosto de 1813, que causou quase 100.000 baixas às
forças da coalizão, enquanto nós somente tivemos 30.000.
Apesar do
sucesso inicial, entretanto, os números continuaram a aumentar contra
a França, pois a Suécia e a Áustria juntaram-se à coalizão. Fomos
derrotados por uma força duas vezes superior na maldita batalha das
Nações, em 16 a 19 de outubro em Leipzig. E fomos traídos nessa
batalha, pois alguns estados alemães, que ainda estavam do nosso lado,
no meio da batalha mudaram para o lado da coalizão, comprometendo
inapelavelmente nossa posição. Essa foi de longe, a maior batalha da
guerra, a batalha que decidiu definitivamente a guerra e custou mais
de 120.000 perdas para os dois lados.
Depois
dessa derrota, retirei o restante do exército para a França, porém
reduzido para menos de 100.000 soldados, logo cercado em território
francês por um exército de mais de meio milhão de soldados da coalizão.
A diferença era imensa e a derrota tornou-se inevitável.
Assim, meus
inimigos forçaram-me a renunciar ao trono de Imperador em abril de
1814. Pelo tratado, decidiram exilar-me na ilha de Elba.
O canto do
cisne em Waterloo
No ano
seguinte, enquanto a Europa decidia seu futuro político no Congresso
de Viena, eu consegui arquitetar uma fuga com êxito de minha prisão
pouco vigiada, após uma festa onde tive a triste notícia de que minha
Josefine falecera. Cheguei na França e dessa vez a resposta de meus
inimigos foi rápida: mal tive tempo de preparar um novo exército, tive
de enfrentar meus inimigos em novas batalhas a acabei sendo derrotado
na Batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815, 100 dias após o meu
retorno à França.
Três
exércitos foram envolvidos na batalha: o francês, um exército
multinacional sob o comando de Wellington e um exército da Prússia,
comandado por Blücher.
Tínhamos ao
redor de 69.000 homens, sendo 48.000 de infantaria, 14.000 de
cavalaria e 7.000 artilharia, com 250 canhões. Wellington tinha 67.000
homens, com 50.000 de infantaria, 11.000 de cavalaria e 6.000 de
artilharia, com 150 canhões, mas ainda contava com a ajuda dos
prussianos, que tinham 48.000 homens.
O 18 de
junho de 1815 foi um dia injusto para a França. Tinha chovido muito
nos dias anteriores, o solo estava muito fofo e assim perdi a
mobilidade da minha artilharia, que seria a principal vantagem tática
do meu exército naquela batalha e, além disso, os soldados e alguns
oficiais, entre eles o meu estimado marechal Ney, estavam
emocionalmente esgotados por tantos anos de campanha. Assim, alguns
erros de comando ocorreram, como a precipitação do marechal que
destruiu completamente a nossa valente cavalaria ao lançá-la a um
ataque imprudente e mal planejado contra posições inimigas muito bem
protegidas.
Meu retorno
foi uma tentativa inglória. A verdade é que, mesmo que vencesse em
Waterloo, eu não poderia vencer a próxima batalha, porque o exército
que estava sendo formado pelos outros países seria insuperável, pois a
França estava exaurida após tantos anos de guerra.
Eu fui
novamente forçado a renunciar ao trono e dessa vez fui levado para uma
ilha bem mais distante da Europa, a ilha de Santa Helena. Lá eu
envelheci, engordei e fiquei apenas cercado de alguns amigos e de
minhas lembranças sobre minhas conquistas...
Foi um triste
fim para um homem como eu, Napoleão Bonaparte. Morrer seja por um erro
médico, seja por envenenamento, é muito desanimador. Por que não
consegui morrer num combate? Por que não morri logo pelas mãos dos
meus carcereiros ingleses? Eles não tiveram essa ousadia porque temiam
meu nome ser exaltado novamente agora sob a forma de mártir? Será?
Seja como for, fiz o que deveria ter feito e agora tenho o grande
consolo de ver que meus inimigos não conseguiram tirar a minha maior
conquista: meu nome foi eternizado na história, junto de homens como
Alexandre, o Grande.
O meu
legado
Deixo aqui
a lista de algumas das minhas inúmeras obras e que a humanidade seja
meu testemunho.
Fiz grandes
reformas internas na França obedecendo ao princípio da igualdade
jurídica surgido da revolução francesa.
Normalizei
as relações do estado francês com a igreja, completei a obra jurídica
de codificação das leis – principalmente o avançado, para aquela época
que vivi, código civil de 1804.
Centralizei
e racionalizei a administração em torno da figura do prefeito.
Implantei
um sistema educativo público amplo e eficaz e inaugurei a Universidade
da França.
Reorganizei
a administração da justiça estabelecendo uma hierarquia única de
tribunais estatais.
Criei o
Banco da França e impus o Franco como unidade monetária nacional.
A MATEMÁTICA NAS ESTRATÉGIAS
MILITARES
Para mim, o
avanço e o aperfeiçoamento da matemática estão ligados à prosperidade
do estado. Sempre gostei da matemática. Afinal, ela foi uma grande
aliada. Sempre inovadora.
Para fugir
dos complicados cálculos usualmente empregados para determinar as
melhores posições e assim escapar do fogo da artilharia inimiga, o meu
grande professor matemático Gaspard Monge, por exemplo, desenvolveu
uma técnica revolucionária. Ele me contou que ainda adolescente, após
fazer um mapa elogiado por especialistas, foi incentivado a ingressar
na escola militar, onde desenvolveu sua técnica para representar no
papel as manobras militares, de tal forma que nada ficasse sob a mira
do inimigo.
Ao
perceberem a genialidade e a importância bélica do novo método, os
militares o mantiveram em segredo por 15 anos. Só era permitido
ensiná-lo aos futuros engenheiros militares. Somente em 1794, em plena
Revolução Francesa, Monge pôde divulgar sua invenção em escolas civis
de Paris.
Assim
começou o estudo da geometria descritiva, que hoje vejo se aplica não
só na engenharia, em desenhos e projetos técnicos, mas também nas
artes e nessa tal fotografia. Afinal, quadros e fotografias são
projeções, e geometria descritiva é na verdade um estudo das
perspectivas.
O
matemático, além de ter sido meu professor, foi um grande amigo,
chegando a me acompanhar na invasão do Egito. Monge é pouco conhecido
ou lembrado nos dias mortais de hoje. Mas ele está por trás de quase
todos os projetos de engenharia e de todos os livros e trabalhos de
geometria descritiva. Como membro Académie des Sciences participou
juntamente com Legendre, Carnot, Condorcet e Lagrange do famoso Comitê
de Pesos e Medidas (1790-1799) que implantou o sistema decimal de
pesos e medidas.
( trecho do livro Caio Zip, o viajante do tempo,
Napoleão Bonaparte na Rússia)
_____________________________________________________
QUEM FOI A PEDRA NA BOTA DE NAPOLEÃO?
Quem mais senão os britânicos
Todas as coalizões, as guerrilhas na Espanha, o exército
russo... Tudo isso foi financiado pelo ouro inglês.
Os atentados contra a vida de Bonaparte também tinham o dedo
inglês no gatilho.
Por muito tempo Napoleão combateu seus fervorosos adversários,
usando como arma, a censura prévia na imprensa. Dessa forma, Napoleão
acreditava que estava ocultando de seus súditos a verdadeira situação
militar, política e econômica. Como contra-ataque os jornais
ingleses, que se mantinham fora de alcance do ditador, publicavam e
espalhavam por toda Europa boatos, caricaturas e principalmente notícias
sobre a grande derrota napoleônica em Trafalgar.
Arthur
Wellesley, o famoso
duque de Wellington apesar de não ser inglês, ele era irlandês,
foi uma 'pedra na bota', especialmente para os
marechais de Napoleão, que tomaram surra atrás de surra na Guerra
Peninsular em Portugal e na
Espanha em 1814. Numa série de batalhas, o duque sucumbiu os
franceses e obrigou Napoleão a manter um enorme exército na Espanha.
Contudo a fama do duque atingiu o topo depois do seu maior feito
militar que consistiu na derrota definitiva imposta às tropas de
Napoleão Bonaparte em Waterloo em 1815
Horatio Nelson também foi uma verdadeira rocha, bloqueando nas águas
todas as investidas de Napoleão, obrigando-o sempre a mudar seus
planos. Assim foi no Egito, na batalha do Nilo como na batalha de
Trafalgar.
Sem
o ouro, a perseverança, o controle dos mares e a capacidade comercial
e industrial dos ingleses, certamente, as engrenagens das rodas
do tempo tomariam um novo rumo e, quem sabe, Napoleão teria morrido
sentado em seu trono.
Napoleão ainda
em seu exílio foi prisioneiro de ingleses e em seu testamento de 1821 deixou
isso bem claro:
"Eu morro prematuramente, assassinado pela oligarquia inglesa e seu sicário; o povo inglês não tardará a me vingar."
"Eu morro prematuramente, assassinado pela oligarquia inglesa e seu sicário; o povo inglês não tardará a me vingar."
Erro
médico matou Napoleão
PARIS
- Após as teses de
assassinato e doença como causas da morte de Napoleão Bonaparte,
agora um estudo dos EUA reivindica que o imperador francês morreu
devido a um erro médico.
A
pesquisa que será publicada na revista britânica New Scientist
confirma a tese divulgada em 2002, na qual se eliminava a
possibilidade de assassinato por arsênico, porque os restos da substância
que estava no cabelo de Napoleão eram de origem exógena. Eram,
portanto, de cola, pintura ou armas de fogo e não foram ingeridos.
O coordenador da pesquisa, Steven
Karch, afirma que o imperador morreu por excesso de zelo de seus médicos,
que lhe aplicavam doses fortes do medicamento composto de potássio e
antimônio contra a dor da úlcera. O remédio induz ao vômito e pode
provocar problemas cardíacos e de irrigação do cérebro.
Os arquivos mostram que, às vésperas de sua morte, 05/05/1821,
na Ilha de Santa Elena, aplicavam-lhe 600 mg do medicamento cinco
vezes ao dia. Isso aumentou seus níveis de potássio e o matou em 5
de maio de 1821, aos 51 anos. (artigo
do Jornal do Brasil 23/07/04)
CONCLUSÃO
Napoleão era um líder, um ditador, calculista - um competente estrategista- e sabia como “vender seu peixe” aos soldados... Enfim, um homem que teve a chance e a agarrou do seu jeito, com unhas, dentes e palavras.O duque de Wellington, que venceu Napoleão em Waterloo, dizia que a presença do Imperador no campo de batalha valia por um exército de 40 mil homens.
Bibliografia:
Guerra e Paz de Leon Tolstoi.
O próprio Napoleão disse de si mesmo: "que romance é a minha vida". Como ele acertou! O escritor russo Léon Tolstoi mostrou que ele estava certo ao escrever o clássico e grande romance "Guerra e Paz". Logo no começo da segunda parte do livro, Tolstoi usa seu gênio literário para mostrar um Napoleão imensamente vaidoso e convencido de si mesmo. É inesquecível as cenas das batalhas fundidas com os conflitos da protagonista Natasha. Cenas onde Napoleão mente ao dizer que os poloneses irão fornecer-lhe cerca de duzentos mil soldados para o ajudarem a esmagar a Rússia, "lutando como leões", ou ordenar que seja impresso em qualquer papel o dinheiro para que os seus soldados saqueadores e os oprimidos comerciantes russos possam “negociar” as mercadorias. O próprio Tolstoi, para escrever as cenas da Batalha de Borodino que aparecem em Guerra e Paz, inspirou-se no livro do escritor francês Stendhal. A cena do incêndio em Moscou é comovente e poética.
Série Caio Zip, o viajante do tempo, em:
Essa série possui, entre outras grandes aventuras de um garoto, viajante do tempo, o capítulo que relata a guerra na Rússia e ainda por cima mostra como a matemática participou desse confronto.
Napoleão
Bonaparte na Rússia
Agora! O livro está disponível
para compra
ou faça um Download
Clique aqui para adquirir seu exemplar.
Impresso nos Estados Unidos
Versão português
(disponível em inglês)
Aceita:
Visa, MasterCard, American
Express and PayPal
Nenhum comentário:
Postar um comentário